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Você é uma pessoa “normal”? Que tão loucos somos?

Tá louco?

Já te perguntaram isso? O que você respondeu?

Parece fácil, mas na verdade, o conceito de loucura não é simples de explicar, se é que pode ser explicado corretamente. De acordo com a psicanálise, a loucura não é vista como uma condição separada ou distinta da saúde mental, mas sim como uma expressão particular de conflitos, traumas e mecanismos de defesa que afetam a psique de uma pessoa. A psicanálise considera que todos os indivíduos possuem uma estrutura psíquica complexa, onde conflitos inconscientes podem surgir e influenciar o comportamento e as experiências pessoais.

Mas o ponto é que a própria normalidade é bem discutível. O que é normal para você?

Como as pessoas veem a normalidade

Geralmente, o que é considerado “normal” é o que é aceito socialmente em uma coletividade. Para uma comunidade, certas atitudes podem ser consideradas aceitáveis, enquanto outras podem considerar o mesmo gesto uma “loucura”.

Pense por exemplo, em algumas tribos amazônicas. Em algumas delas, as pessoas praticamente andam nuas. Completamente. Em outras, se usam apenas pequenas peças de roupa que parecem mais adornos do que roupas propriamente dito. Se um membro dessas comunidades se apresenta assim em um centro urbano qualquer do Brasil, certamente ele ou ela terá problemas com a polícia, isso para dizer o mínimo. Essa enorme diferença cultural pode fazer com que alguém pense ao ver tal indivíduo sem roupas na rua, como sendo um “louco”.

Eu dei um exemplo meio extremo, mas vamos a um mais simples. Imagine que você está caminhando com alguns amigos de volta de um churrasco na casa de um amigo. Seu grupo vai conversando tranquilamente, até que em um ponto do trajeto, vocês passam por um local onde uma música bem movimentada está tocando. Um de seus amigos então, que gosta muito da música, começa a cantarolar a letra enquanto faz alguns passos da coreografia da música.

Como vocês estão em público, alguns de seus amigos pedem para que ele pare com isso. Afinal, vão pensar que ele é “louco”. Agora eu pergunto: se você visse uma pessoa na rua dançando e cantando, pensaria que ela tem algum tipo de transtorno mental? Ou que ela está simplesmente comemorando algo bom? Ou até mesmo, simplesmente se sentindo feliz e sem medo de expressar isso?

Comum versus normal

É preciso entender a diferença entre o que é comum e o que é normal. Muita gente confunde os dois conceitos. Eu já comentei aqui no blog sobre essa diferença e vou reforçar nesse artigo.

Comum: algo que acontece, que é costumeiro. Por exemplo, é comum no Brasil, que a temporada de chuvas seja no verão. É comum que as pessoas queiram beber café durante a manhã.

Normal: é normal que um carro se mova com um motor. Também é normal que uma pessoa beba água.

Como você vê, nem tudo o que é comum é normal. Um assalto pode ser comum em algumas regiões, mas certamente não é algo normal. É uma anormalidade.

E é aí onde entra o conceito comum de loucura: as pessoas classificam pessoas como loucas pelo simples fato de não serem pessoas comuns. Dessa forma, autistas podem ser classificados como loucos, já que não se comportam sempre como um neurotípico. Ver uma pessoa dançando enquanto caminha na calçada não é comum, mas também não quer dizer que ela seja “louca”.

Distúrbios mentais versus loucura

Sim, há distúrbios mentais de diferentes níveis. Doenças sérias que complicam a vida de quem é afetado por elas, tanto direta como indiretamente. E esses distúrbios devem sim, ser tratados com muita responsabilidade.

Mas nesse artigo, quero contestar o que chamamos de loucura. Muitas vezes, a loucura é apenas o pensar diferente do comum. A pessoa tem um pensamento normal, porém incomum. E isso é chamado de loucura. Num passado triste e frio recente, muitos hospícios continham pessoas que não exatamente tinham distúrbios mentais. Por exemplo, em Barbacena havia um hospício que segundo a autora deste livro podem ter morrido mais de 60.000 pessoas, muitas delas inclusive que eram apenas “indesejados” que foram confinados em condições absurdas em um local que era como um campo de concentração nazista.

Se você tem ideias fora do que é comum, diferentes do que sua comunidade “aceita”, saiba que você não é nenhum louco. Você é apenas diferente, incomum.

Desafie a normalidade! Questione o conceito de loucura!

Psicanalista é terapeuta de loucos?

Mas, que “loucura” é essa?

Pelo simples fato de que você procurou ajuda profissional, você mostrou que não tem nada de louco. Principalmente se você procurou e aceitou a ajuda. A Psicanálise é um processo que vai ajudar quem passa por ele a se conhecer melhor, a saber lidar com os porquês de sua vida, a saber se questionar, questionar suas atitudes e pensamentos. Se você acha que quem procura isso é louco, louco é você.

Se você quer ser ouvido e quer se ouvir melhor, procure um psicanalista.

Eu quero te ouvir, me procure.

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