Perder um ente querido é uma experiência incrivelmente desafiadora e profundamente pessoal da qual ninguém está isento. O processo de luto é complexo e único para cada indivíduo, envolvendo uma variedade de emoções e obstáculos. Através da lente da psicanálise, uma abordagem psíquica que explora a mente inconsciente e os processos mentais, obtemos insights valiosos para compreender e enfrentar o luto. Neste artigo, vamos explorar a perspectiva psicanalítica sobre o luto e fornecer orientações para apoiar aqueles que estão passando por essa jornada árdua.
A Perspectiva Psicanalítica sobre o Luto
Sigmund Freud, o pioneiro da psicanálise, reconheceu a intensidade do luto e suas ramificações psicológicas. Ele observou que o processo de luto envolve confrontar a realidade da perda e se desvincular emocionalmente do ente querido falecido. A teoria psicanalítica ressalta que o luto não é um processo linear, mas sim um turbilhão de emoções contraditórias, que muitas vezes são expressas de maneiras complexas e inesperadas.
Também é importante mencionar que para a Psicanálise, o luto pode ocorrer não somente com a perda de um ente querido. Qualquer perda ou mudança em nossa vida pode provocar o luto. Vou dar alguns exemplos: a perda de um emprego, a mudança de casa para um lugar muito distante, o divórcio de um casal. Em outras palavras, qualquer coisa, acontecimento, pessoa ou fato que nos deixou uma sensação de perda dolorosa, pode gerar o luto.
Além disso, o sentimento de luto é algo irrepetível, de uma pessoa a outra. Assim, cada pessoa enfrenta o luto de uma maneira totalmente única.
Estágios do Luto na Perspectiva Psicanalítica
O conceito das fases do luto foi proposto por Elisabeth Kübler-Ross. Ela era uma psiquiatra suíço-americana e autora renomada, conhecida por seu trabalho pioneiro no campo dos cuidados paliativos e pelo desenvolvimento da teoria das “Cinco Fases do Luto”, também conhecida como o “Modelo Kübler-Ross”. Estes incluem:
- Negação e Isolamento: Uma reação inicial de choque e incredulidade diante da perda. Convém lembrar que a negação é uma ferramenta de defesa do Ego. A princípio, uma pessoa enlutada pode não somente negar a perda, mas até mesmo fantasiar que ela não ocorreu realmente. Me recordo de uma pessoa que, ao receber pessoas em sua casa, quis oferecer algo, mas disse que só não poderia oferecer o iogurte que estava na geladeira, porque sua esposa (recém falecida) “gosta muito desse iogurte.” Essa fase, assim como as demais, pode durar pouco ou muito tempo. Como comentei, cada pessoa é única.
- Raiva: Sentimentos de raiva em relação à perda e à injustiça do acontecimento. Essa raiva pode ser direcionada para o que se perdeu (por que essa pessoa “tinha” que morrer bem agora?), para o próprio enlutado (“Foi minha culpa, se eu tivesse…”) ou ainda para uma instituição, como o governo, uma empresa, o “sistema” ou até mesmo Deus.
- Negociação: Em um esforço para evitar ou adiar a dor, a pessoa pode entrar em um período de negociação, fazendo promessas ou buscando acordos, muitas vezes com Deus ou uma força superior. Essas negociações em algum momento podem ajudar no processo, quando por exemplo, um enlutado se propõe a fazer ajustes em sua vida, para conviver com essa perda.
- Depressão: Um profundo sentimento de tristeza e desesperança diante da realidade da perda. Importante mencionar que o processo da depressão pode durar vários dias, meses ou até anos. Nessa fase, o enlutado precisa de muita compreensão e acolhimento por parte das pessoas próximas.
- Aceitação: Gradual aceitação da perda e da mudança que ela traz para a vida. Essa fase pode acontecer em outro momento do luto da pessoa em questão. Nessa fase, o enlutado entende e compreende que já não conta com aquela pessoa, ou coisa que tinha antes.
Num processo de luto, uma pessoa pode passar e até mesmo voltar a algumas das 5 fases mencionadas. Assim, o enlutado pode vir da fase de aceitação para a de depressão, ter momentos de raiva, negação e voltar para a fase de aceitação. Ou estar em mais de uma fase ao mesmo tempo. Como comentei, cada pessoa é única e irá sofrer o luto de maneira única.
Como Ajudar uma Pessoa Enlutada
Apoiar alguém em luto requer empatia, paciência e compreensão. Aqui estão algumas orientações baseadas na perspectiva psicanalítica:
- Escuta Ativa: Esteja presente para ouvir os sentimentos e pensamentos da pessoa enlutada. Permita que ela se expresse sem julgamento. E, em muitos casos, é preciso também respeitar o desejo do silêncio do enlutado. Às vezes, o que ela ou ele quer é ter um momento de silêncio, de introspecção, para organizar seus sentimentos e pensamentos. Quando isso acontece, devemos respeitar e “ouvir” esse silêncio, por respeitá-lo.
- Validação: Reconheça e valide as emoções que a pessoa está vivenciando, mesmo que pareçam contraditórias. Evite minimizar o sofrimento dela. E isso infelizmente é algo muito recorrente. Dar conselhos do tipo “está tudo bem, vai passar” pode parecer bom, mas o enlutado pode sentir que não se está respeitando seus sentimentos. O que valida o luto de uma pessoa é ela mesma. Não como outra pessoa saber como o enlutado está sentindo seu luto.
- Tempo e Espaço: Respeite o ritmo individual do processo de luto. Evite pressionar por “superar” a perda rapidamente. Cada pessoa é única (sim, estou sendo repetitivo com essa expressão).
- Ofereça uma Presença Constante: Esteja disponível para a pessoa enlutada ao longo do tempo. O luto não tem um prazo de validade e o apoio contínuo é crucial. Mas lembre-se de que essa presença sua deve ser no sentido de estar disponível. Não dê a impressão de que você está se metendo demais na vida da pessoa. Mas deixe o enlutado saber que você REALMENTE está disponível para dar apoio.
- Promova a Expressão: Incentive a expressão emocional saudável, seja por meio de conversas, artes, escrita ou outras formas de criatividade. Sempre respeitando o espaço e o ritmo emocional da outra pessoa.
- Evite Julgamentos: Cada pessoa lida com o luto de maneira única. Evite comparar a experiência dela com a de outros. Conheço pessoas que perderam a esposa e poucos meses depois estavam casados novamente, felizes. E outras pessoas que ao perder o cônjuge, passaram por um grande e extenso processo de luto. E não podemos dizer que o primeiro citado não sentiu luto.
- Incentive o Autoconhecimento: Caso a pessoa esteja aberta a isso, ajude-a a explorar seus sentimentos, memórias e pensamentos através de uma abordagem terapêutica. Buscar apoio profissional pode ajudar profundamente uma pessoa enlutada a conhecer seu próprio processo de luto e assim poder conviver melhor com ele.
O luto não precisa ser enfrentado sozinho
A psicanálise oferece uma compreensão profunda do luto como um processo complexo e multifacetado. Através da empatia, escuta ativa e apoio constante, podemos ajudar pessoas enlutadas a navegarem por suas emoções e desafios, permitindo-lhes encontrar maneiras saudáveis de lidar com a perda. O processo de luto é uma jornada pessoal, mas com o apoio adequado, podemos ajudar aqueles que estão sofrendo a encontrar uma forma de reconstruir e seguir adiante com suas vidas.
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