“Eu quero levar, uma vida moderninha, deixar minha menininha sair sozinha. Mas eu me mordo de ciúmes.” Essa é uma letra dos anos 80 (da banda Ultraje a Rigor) que ilustra bem como o ciúme funciona. Neste artigo, vamos abordar um pouco sobre o ciúme, sob a visão da Psicanálise.
Mas primeiro, vamos falar sobre as diferenças entre ciúme e possessividade
Ciúme e possessividade
Com certeza, uma pessoa possessiva será ciumenta também. Mas o contrário nem sempre é verdadeiro. O sentimento possessivo é muito mais intenso.
Pessoas possessivas têm origens que podem variar de solidão a discriminação na infância. Eles podem ter uma baixa autoimagem; Em algumas ocasiões, pode até ser um traço genético que é herdado.
Desta forma, sob a ânsia da posse, o desejo de controlar pode ser escondido. Um controle que pode ser motivado pela baixa autoestima. Amando pouco uns aos outros, procuramos os outros para nos fazer felizes, ou seja, responsabilizamos o outro pela nossa felicidade. Portanto, em vez de amar livremente, nos apegamos à outra pessoa e a possessividade é desencadeada.
A possessividade não é apenas sobre dominar a outra parte, ela vai muito além. Pessoas possessivas passam a ver seus parceiros como suspeitos, quando na verdade eles não fizeram nada. Tudo aparece como uma reação em cadeia, onde a posse e dominação do outro é maior a cada dia. Um círculo vicioso que envenena o relacionamento e o fere mortalmente.
A pessoa possessiva vem espionar seu parceiro, verifica sua bagagem e procura sinais de infidelidade no casamento. Em suma, ele não deixa de desconfiar de seu parceiro e não permite que ele descanse em paz. Em casos extremos, você pode até mesmo seguir e espionar a outra pessoa no trabalho para saber se ela está tendo um caso.
O sentimento dela é que ela possui a outra pessoa. E ela, por não querer que essa pessoa de alguma forma seja “possuída” por outra pessoa, ela tenta proteger essa “posse”.
A pessoa possessiva geralmente demonstra essa atitude de maneira constante. Ela sempre vai querer “proteger” o que ela acredita possuir, seja como for.
O ciúme, por outro lado, pode ser episódico. Em uma festa, você viu sua namorada ou namorado conversando com alguém e você sentiu que a conversa poderia estar indo para um lado de certa forma, romântico. Isso fez você se sentir mal, pode ser inclusive que você tenha interrompido a conversa, cortando assim o que te fazia se sentir mal.
O ciúme é o primeiro passo para converter uma pessoa de ciumenta para possessiva.
O ciúme é uma emoção complexa que pode se manifestar de diversas maneiras, desde a suspeita de infidelidade até a inveja de uma pessoa próxima que aparenta estar mais feliz ou bem-sucedida. Na perspectiva da psicanálise, o ciúme está relacionado a questões profundas da personalidade e pode revelar traumas, desejos reprimidos e inseguranças.
O ciúme
De acordo com Sigmund Freud, o pai da Psicanálise, o ciúme é uma resposta emocional normal que surge quando um indivíduo percebe que está em risco de perder algo valioso, como o amor de um parceiro. No entanto, o ciúme excessivo pode ser uma indicação de que a pessoa está sofrendo de ansiedade ou insegurança, e pode estar projetando seus próprios medos e traumas no relacionamento.
Freud também afirmou que o ciúme pode ser uma manifestação do complexo de Édipo, que é um conflito psicológico que ocorre na infância, quando a criança começa a se identificar com o sexo oposto e a sentir atração pelo pai ou mãe do mesmo sexo. Esse conflito pode se manifestar mais tarde na vida como ciúme, quando a pessoa projeta seus desejos inconscientes em um parceiro romântico.
Outra teoria psicanalítica sobre o ciúme é a de Melanie Klein, que acreditava que a emoção está relacionada ao medo de perder a fonte de amor e carinho que é representada pela mãe. Segundo Klein, o bebê experimenta ciúme quando percebe que a mãe está prestando atenção a outro objeto, e isso pode criar uma sensação de abandono que pode persistir na vida adulta.
Além disso, a psicanálise também vê o ciúme como uma defesa contra a ansiedade e a insegurança. Quando uma pessoa se sente insegura em relação a um relacionamento, ela pode projetar seus medos e traumas no parceiro, criando um ambiente de desconfiança e ciúme. Essa defesa pode ser uma maneira inconsciente de proteger-se contra a possibilidade de ser rejeitado ou abandonado.
No entanto, o ciúme excessivo pode ser prejudicial para os relacionamentos e para a saúde mental da pessoa. Quando a emoção é expressa de maneira agressiva ou controladora, pode levar a conflitos e ressentimentos que podem destruir a relação, principalmente quando o ciúme vira uma obsessão e a pessoa se torna possessiva. Além disso, o ciúme pode causar ansiedade e estresse que podem levar a problemas de saúde mental, como depressão e transtornos de ansiedade.
Por isso, a psicanálise sugere que é importante compreender as causas do ciúme e trabalhar para superar as inseguranças e traumas que podem estar por trás dessa emoção. Isso pode envolver a busca de ajuda profissional, como terapia psicanalítica, para explorar essas questões em um ambiente seguro e confidencial.
Além disso, é importante desenvolver habilidades de comunicação saudáveis e aprender a confiar no parceiro. A comunicação aberta e honesta pode ajudar a resolver conflitos e criar um ambiente de confiança, enquanto a confiança pode ajudar a aliviar os medos e inseguranças que podem levar ao ciúme.
Outra abordagem sugerida pela psicanálise é a de trabalhar com a própria identidade e autoestima. Quando uma pessoa tem uma boa autoestima e um senso de identidade forte, é menos provável que se sinta ameaçada por outras pessoas ou pelo sucesso dos outros. Trabalhar em sua própria autoimagem e autoconceito pode ajudar a diminuir a necessidade de comparar-se com os outros e a invejar suas conquistas.
É importante lembrar que o ciúme não é uma emoção inerentemente ruim, mas sim uma resposta emocional normal a certas situações. No entanto, quando o ciúme se torna excessivo e prejudica os relacionamentos e a saúde mental da pessoa, é importante buscar ajuda e trabalhar para superar as causas subjacentes.
A perspectiva da psicanálise sobre o ciúme destaca a importância de entender as raízes profundas dessa emoção e trabalhar para superar as inseguranças e traumas que podem estar por trás dela. Isso pode envolver a busca de ajuda profissional, o desenvolvimento de habilidades de comunicação saudáveis e a construção de uma autoimagem e autoestima positivas. Ao fazer isso, é possível criar relacionamentos mais saudáveis e gratificantes e promover a saúde mental e emocional.
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