“De todas as brincadeiras que eu gosto, a melhor é pular corda!” Assim diz parte de uma música do grupo musical Trem da Alegria, que fez muito sucesso nos anos 80 e 90.
Essa semana eu estava interagindo em uma rede social de um antigo membro desse grupo infantil que. A conversa era sobre como são as crianças da atualidade, em comparação com as crianças de gerações anteriores. E sim, sei que comparar gerações é algo que nem sempre é bom, mas dessa vez tive que fazer essa comparação.
A psicanálise enfatiza a importância do jogo simbólico na infância. Nesse tipo de brincadeira, a criança usa sua imaginação para criar um mundo imaginário, onde pode desempenhar diferentes papéis e situações. Essa atividade é fundamental para o desenvolvimento da criatividade, da empatia e da compreensão das emoções.
Melanie Klein (1926/1981) postulou que, ao brincar, a criança “fala e diz toda sorte de coisas que têm o valor de associações genuínas”, assim como um adulto produz associações para os elementos do seu sonho (Klein, 1926/1996, p. 159).
Ao brincar, as crianças experimentam e exploram o mundo ao seu redor, aprendendo novas habilidades e desenvolvendo a capacidade de resolver problemas. Além disso, a brincadeira oferece às crianças uma maneira segura de lidar com suas emoções e sentimentos, ajudando-as a desenvolver a autoestima e a confiança.
Outro aspecto importante da brincadeira é a sua função terapêutica. As crianças que enfrentam situações difíceis ou traumáticas muitas vezes encontram na brincadeira uma forma de expressar suas emoções e lidar com o estresse. O brincar pode ser visto como uma forma de terapia, ajudando as crianças a lidar com suas emoções de uma maneira segura e construtiva.
A psicanálise destaca a importância da brincadeira como um momento de conexão e vínculo entre pais e filhos. Ao brincar com seus filhos, os pais têm a oportunidade de se conectar emocionalmente com eles, reforçando os laços afetivos e a confiança mútua.
Além disso, a psicanálise enfatiza a importância da brincadeira para o desenvolvimento infantil. Através da brincadeira, as crianças aprendem novas habilidades, desenvolvem a autoestima e a criatividade, lidam com emoções difíceis e fortalecem os laços com seus pais e cuidadores. Por isso, é fundamental que os pais e educadores incentivem e valorizem a brincadeira como uma atividade essencial para a infância.
Crianças que não querem brinquedos, nem conseguem brincar
Um problema que vem crescendo atualmente é que muitas crianças já não querem brincar. Há pelo menos duas coisas que atrapalham bastante a infância de hoje:
- Leis que PROÍBEM propagandas de brinquedos, que são produtos feitos precisamente para que as crianças BRINQUEM. Sob o pretexto idiota de que com essa lei, as crianças serão menos “consumistas”, se ignora que as crianças, assim como todas as outras pessoas, continuam tendo acesso à anúncios diversos e por isso, o consumismo delas ainda é incentivado, só que agora por outros produtos. (A Resolução nº 163 de 2014 do Conselho Nacional dos Direitos da Criança e do Adolescente (Conanda) reforça o CDC ao detalhar o conceito de abusividade de toda e qualquer e qualquer publicidade dirigida ao público infantil, com o intuito de persuadi-lo ao consumo de produtos e serviços. O Marco Legal da Primeira Infância (Lei nº 13.257/2016) determina a proteção da criança contra toda forma de violência e pressão consumista e a adoção de medidas que evitem a exposição precoce à comunicação mercadológica.)
- Em Marketing, se fala em “produtos substitutos” que é quando há a opção de se substituir um produto por outro, que cobre uma função ou uso similar. Sem anúncios de brinquedos, atualmente as crianças querem celulares e tablets. Além disso, desejos praticamente oníricos como o ser astronautas quando crescerem estão, pouco a pouco, sendo substituídos por desejos de ser influenciadores digitais. O consumismo precoce, como tenta proteger a lei, ainda acontece e com força total. Só que agora, crianças querem consumir produtos feitos para adultos. Parabéns!
- Segundo uma pesquisa realizada por um movimento chamado “Free the kids” indicou que muitas crianças, em vários países, saem de dentro de suas casas por menos tempo que presidiários. Isso mesmo! Leia a matéria clicando aqui. Isso acontece por causa do medo da violência e o excesso de compromissos que os pais atualmente têm colocado nas costas de seus filhos.
Comentando cada ponto mencionado acima, primeiro vou comentar sobre as leis que proíbem anúncios de brinquedos. Há muitas pessoas que apoiam essa iniciativa, pelos motivos que comentei acima. E eu concordo que há que se proteger as crianças. Fala-se muito de que as crianças são expostas a anúncios quando estão longe de seus pais. Mas, espera um pouco. Como assim? Supervisionar os filhos é trabalho dos pais. Eles devem saber o que fazem seus filhos e onde o fazem. É verdade que não dá para “censurar” um comercial na TV. E esse também é meu argumento: agora, sem anúncios de produtos para crianças, como brinquedos, as crianças continuam vendo comerciais sem nenhum filtro, na TV. Anúncios de produtos que não foram feitos para elas.
Lacan disse: “O desejo do homem é o desejo do outro.” Nós desejamos o que desejamos porque outras pessoas desejam também. E quando o objeto de desejo deixa de ser um brinquedo, para ser um celular por exemplo, nós vemos crianças “brincando” com os brinquedos errados.
Agora, quero comentar um pouco sobre o tempo de brincadeira das crianças. Hoje em dia, cada vez mais os pais querem que seus filhos sejam adultos super bem-preparados, com conhecimentos diversos em praticamente “tudo”. Aí, fazem com que seus filhos tenham compromissos de estudos diversos. Submetem seus filhos a um nível de stress bem parecido com o que um adulto tem em seu trabalho. Um stress que a criança não está preparada para lidar.
E graças à violência, muitos pais têm medo de deixar seus filhos saírem para brincar. Daí, acontece o que o movimento “Free the Kids” comenta. Presidiários passam mais tempo ao ar livre do que muitas crianças, essas que ficam enjauladas em suas casas, com quilos de tarefas para fazer e múltiplas atividades “formativas” que os pais querem que façam. Esses pais se esquecem que uma das melhores atividades formativas é o brincar.
Cuide da infância de seu filho
Se tiver filhos, cuide da infância deles. Valorize esse período, pois ele é único, só se é criança uma vez na vida. Esse período de inocência deve ser respeitado e valorizado.
Como é proibido anunciar brinquedos, dê a sua filha ou filho a oportunidade de conhecer brinquedos diferentes. Leve seus filhos à uma loja de brinquedos de vez em quando. Eles precisam saber que há coisas muito melhores para uma criança do que um celular. E sobre gastar dinheiro com isso, pense que você está investindo na formação do seu filho como um ser humano feliz.
Além disso, programe atividades ao ar livre, tanto em que você com mãe ou pai pode participar, como atividades que seus filhos podem fazer com outras crianças.
- Muito mais importante do que aprender inglês é que sua criança brinque inocentemente.
- Muito mais importante do que ter um celular é ter um brinquedo na mão de sua criança.
- Muito mais interessante é sonhar em ser astronauta, super-herói ou qualquer outra coisa onírica, do que sonhar em ser YouTuber.
- Muito mais importante é você passar tempo com sua criança do que terminar o relatório do trabalho.
- Muito mais importante é você interagir com seu filho de maneira significativa, do que ele ficar dependente emocional da TV (ou streaming, internet etc.)
Se quiser alguém para conversar sobre isso, agende uma consulta, quero te escutar. CLIQUE AQUI para fazer isso.
Links de interesse:
Crianças têm menos tempo ao ar livre do que presidiários. (mundoemcores.com)
INTRODUÇÃO (fslf.edu.br) (artigo sobre a importância dos brinquedos na educação)
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